18.4.06

Minha vida como se fosse um filme: Paixonite pré adolescente


Estavamos eu e uma amiga no elevador do meu prédio. Eu tinha 12 anos, ela por volta de 9 ou 10 anos. A nossa intenção era buscar algum brinquedo meu em casa. Tive uma infância e pré adolescência saudável se pensarmos que foi essencialmente urbana. O mundo lá fora já era proibitivo para ser lugar de brincadeira de criança, mas morava em um lugar que estava longe de ser daqueles que quase obrigam as crianças a ficar em casa, muitas vezes sozinhas. Carros e apartamentos conviviam com crianças correndo, árvores prontas para serem subidas e espaços seguros para jogar bola na rua, andar de bicicleta, pular amarelinha, brincar de esconde esconde. Mas fomos recorrer a alguma diversão guardada em casa.

Abri a porta, minha amiga me esperava na escada externa e fui até meu quarto. No meio do corredor, minha mãe com algum papel nas mãos. "O que é isso?", dizia. Não estava necessariamente brava, mas tinha uma certa severidade no que falava. Não sei se pelo tal papel ou porque esse jeito faz parte da personalidade dela. Então ela me mostrou uma carta (era isso o tal papel). Alguém deixou para mim debaixo da porta, ela viu e não gostou. Eu li e estranhei, sem contar que a carta tinha um perfume doce demais, que deixava o ar enjoativo mesmo pouco mexendo no papel. Como naquele momento estava só de passagem, peguei o brinquedo e fui embora. Minha mãe não insistiu, afinal nem sempre somos responsáveis pelas cartas que recebemos.

Saí explicando o porquê da demora para buscar apenas um brinquedo. Um dos garotos que brincavam conosco tinha me enviado uma carta. Era uma carta de amor. Ele tinha 11 anos, eu tinha 12. Minha mãe estava achando cedo demais para que eu recebesse cartas de amor.

No começo da noite, voltei para casa e recebi um sermão sobre garotos e namoros nessa fase da vida. Algo como "você não tem idade para levar isso a sério". Eu não tinha vontade de levar a sério, o garoto nem me interessava. Por que ele manda a carta e eu que recebo recomendações de conduta? Fiquei encabulada com a situação, então escondi a carta por um tempo, depois joguei, mais com a intenção de me livrar do perfume enjoativo do que da própria carta.

Não só a carta sumiu, mas eu também tentei sumir do garoto por um ou dois dias. Depois seguiu uma encabulada insistência infantil, juntamente com a persuasiva pressão do grupo. Cedi aos poucos. Dias depois trocamos beijos no rosto atrás de uma árvore, que terminou comigo correndo de vergonha. Mais alguns dias e estávamos namorando. No terceiro dia, ele acabou o namoro comigo. No fim de semana seguinte, meu "ex-namorado" estava com uma amiga minha de 9 anos, num relacionamento que durou uma semana.

Talvez minha mãe estivesse certa quando disse que a gente não tinha idade para levar isso a sério.

1 Comments:

At 3:51 PM, Blogger Tarcisio Torres said...

E ela nem imagina como isso faz parte da sua história...

Relacionamentos efêmeros... quem nunca passou por eles?

Abraços, até quinta!

 

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